Todos sonhamos com a harmonia e a paz, almejamos a felicidade e o paraíso. Alimentamos uma utopia que nos mantém vivos e crentes. Crentes nos pe-quenos gestos que transformam e nas atitudes que tornam o coração humano pleno de razões para seguir acreditando e vivendo, mesmo que as evidências digam o contrário. Crentes que algo novo sempre pode acontecer e que nossa esperança nunca será vã.
Pouco interessam os detalhes dos acontecimentos que se deram com a pessoa de Jesus. Aliás, alguns deles pouco têm a dizer ao ser humano de hoje, pois estão fora da realidade da história. Os acontecimentos da ressurreição devem ser lidos e vividos como mensagem e não como episódios mágicos. De qualquer maneira, os principais eventos de nossa vida não se explicam e pedem uma atitude de abertura e acolhimento. Também não precisamos partir apenas da lógica racional. No dizer do Pequeno Príncipe, o essencial só se capta com o coração, porque é invisível aos olhos. Assim, para captar a profundidade e o sentido de qualquer experiência, seja a de Jesus, sejam as nossas, é preciso entrar em jogo a lógica do coração humilde e confiante. Só mergulha no sentido da ressurreição quem é capaz de despojar-se do orgulho, da prepotência e da autossuficiência. Quando o coração está fechado à novidade e o olhar turvado pela insensibilidade, dificilmente se podem contemplar os sinais de vida misturados às experiências do cotidiano.
Celebrar a Páscoa é uma oportunidade ímpar de recobrarmos a capacidade de tocar o infinito em meio à finitude e pequenez de nossas experiências. Para isso, torna-se fundamental prestar mais atenção! Isso significa dar um salto de qualidade na maneira de olhar e contemplar a vida e tudo o que a envolve. A experiência da ressurreição foge à compreensão, porque normalmente somos pouco treinados para captar os sinais bonitos que geram vida e promovem a dignidade humana. É mais fácil assistir os espetáculos de violência ou de hero-ísmo vividas por Jesus nos teatros e filmes do que ler as mensagens divinas nas entrelinhas da história e dos acontecimentos cotidianos.
O espetáculo da ressurreição acontece bem perto de nós e em nós. Por mais que não percebamos, no meio do caos e do sofrimento sempre surge uma pessoa, um gesto, uma palavra, uma proposta, um movimento que recorda que a vida está ali, teimosa e insistente. A morte definitiva se dá quando cessamos de acreditar nos bons projetos que geram vida de qualidade e no potencial do ser humano. A ressurreição acontece porque os gestos bons e transformadores, o bem e a justiça permanecem vivos e transparentes nas mentes e nos corações dos que deles comungam. Aprendemos com Jesus, a desenvolver uma enorme paixão pelo ser humano e pela vida, removendo a pedra que insiste em sufocar a esperança e fechar as portas da novidade.
Celebrar a Páscoa, inspirando-nos nos gestos e palavras de Jesus, é alimentar a esperança e o sentido da vida. Uma esperança alicerçada na capacidade de contemplar os rostos sofridos e sentir compaixão; de desfrutar as conquistas de cada dia; de exercitar o perdão gratuito; de usar o poder como serviço; de cultivar a interioridade que permite ver tudo com mais profundidade e sair da mediocridade; e de persistir na arte de cuidar.
A ressurreição acontece sempre que acreditamos na teimosia e na grandeza da vida, em todos os sentidos. Na fragilidade da semente, que morre e germina, esconde-se a força de novos frutos. Nos pequenos e transformadores gestos renova-se a fé, a esperança e o amor.
Em atitude de simplicidade e humildade, ajoelhamo-nos diante do grande Mistério para acolhê-lo na terra nova do coração. E que a recompensa seja uma alegria duradoura, uma paz inquieta e uma luz envolvente.
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