A Alegria como modo de ser.
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- Por: Vanderlei Soela
A alegria é um elemento crucial para o convívio humano e um modo de ser-no-mundo. É ela que alimenta a alma e faz a vida ter sentido. Por meio dela o relacionamento humano se lubrifica, o sofrimento ganha novos significados, a dúvida é capaz de esperar. Mas, para tanto, deve ter caráter de durabilidade e de verdade. Durabilidade não como sinônimo de inesgotável, mas de resistência a um tempo necessário para provocar uma ressonância interna, capaz de mudar as coisas. Verdade, enquanto coerência entre uma experiência interna e a realidade experimentada de fora. Mas, até que ponto se pode dizer que o que se experimenta num determinado momento tem fundamentos falsos ou verdadeiros? Quais seriam as provas de que a alegria que se sente não é apenas passageira e até enganosa? É muito comum se ouvir, especialmente nos meios religiosos, que o ser humano não se deve contentar com as alegrias passageiras e sim com as alegrias eternas; ou, que nossas alegrias são vãs e que a verdadeira alegria vem somente de Deus. Mas, existe alegria que não seja passageira? Aliás, o que neste mundo não o é? O certo é que todos nós, de um jeito ou de outro, sabemos em que consiste a alegria; que há aquelas mais duradouras e outras fugazes. Quantas vezes já experimentamos alegrias que atingiram seu pico e que depois, como um sopro, desapareceram? Quantas experiências alegres deixaram um gosto amargo e um peso no coração! Contudo, conhecemos também aquelas alegrias que se prolongaram, trouxeram paz e um sentimento de harmonia e integração. Segundo o dicionário Houaiss, alegria “é um estado de viva satisfação, de vivo contentamento; regozijo, júbilo, prazer”. Como o significado já expressa, é um “estado”, isto é, mais do que uma rápida experiência. A alegria é, pois, a característica de alguém, de forma constante, como padrão, jeito de ser. Para a pessoa marcada pela alegria, ou seja, por um estado de vivo contentamento e satisfação, a vida tende sempre a ganhar um colorido especial. Mesmo nos momentos de tristeza guarda aquele dinamismo que pode ser recuperado e colocado em movimento. Assim, pode-se dizer que a alegria é a expressão de um estado constante de ver a vida, as pessoas, os acontecimentos e os revezes do caminho de forma gratuita, dadivosa, como oportunidade de crescimento e combustível para a jornada. A pessoa alegre vê todas as situações como uma janela de oportunidades. Entende que a felicidade se constrói a partir de cada momento, com elementos positivos ou negativos, belos ou trágicos. Para quem assim o faz, todas as alegrias são passageiras, mas em todas pode-se experimentar um pouquinho de eternidade. Em um tempo em que tudo muda com grande rapidez, em que as relações se tornam cada vez mais “líquidas”, quando a liberdade aparentemente está ao alcance da mão, o ser humano se depara com sua fragilidade e, não raro, com o vazio e a falta de sentido. O tempo se encurta e se escassa, não possibilitando boas experiências de silêncio e cultivo da interioridade. É preciso fazer o máximo em menos tempo. Tudo parece urgente e bom. Passa-se superficialmente por muitas coisas e absorve-se pouco ou nada das experiências. Parece que a vida escapa entre os dedos. Nesse cenário conturbado e gerador de vazio, torna-se necessário criar alegria de qualquer forma. Se ela não brota do interior, busca-se fora. Se ela não nasce naturalmente, compra-se. Se não dá para ser profunda, há que anestesiar-se com tranquilizantes, bebidas, justificativas... Assim, a alegria, que deveria ser a ressonância de uma interioridade apaziguada e contente, torna-se um produto de luxo, buscado a qualquer preço. Quando se instala a necessidade de “comprar” a alegria em algum lugar, em alguém ou em alguma coisa, ainda que seja uma diversão, há um sério indicador de que a fonte geradora de alegrias naturais e gratuitas está seca ou poluída. Urge, pois, cuidar da fonte original que pode proporcionar experiências simples, mas consistentes. Um critério para confrontar a consistência da alegria é perceber o quanto uma experiência de alegria contagia a si e aos demais e de como ela se prolonga. Experiências do cotidiano nos permitem recordar que nem sempre experiências alegres deixam o coração pleno. Muitas até são causadoras de tristeza, arrependimento ou auto-depreciação. Mas há também aquelas alegrias que são mais duradouras e seus efeitos geram um sentimento de realização, completude e satisfação. Em outras palavras: elas plenificam. São aquelas que nos empurram para cima, para o alto, para frente. A pessoa marcada por uma alegria duradoura e saudável transmite aos demais a clara mensagem de que a vida vale a pena e que, mesmo em meio às turbulências, é possível vê-la de forma integrada e positiva. Tal experiência canaliza boas ondas de regozijo e faz sintonizar com tudo ao redor, tornando o peso da vida e da história um pouco mais leve. Aponta para o profundo e para o céu e concede ao que é passageiro um toque de eternidade, de transcendência. Alguns elementos para testar a consistência da alegria: Primeiro, é viver o presente e encarar o passado como memória, aprendizagem e, ao mesmo tempo, ver o futuro como possibilidade sobre a qual vale a pena investir energia. Quem se estagna no passado ou só vive pensando no futuro corre o sério risco de não viver o presente. É nas experiências do presente, vividas em profundidade e simplicidade, que se pode experimentar e curtir a alegria. Segundo, não se deixar configurar pelo mundo. Esta expressão bíblica recorda que tudo é passageiro e fugaz. Precisamos das coisas, das pessoas, das estruturas, porém não nos esgotamos nelas. Se nos deixarmos modelar, por exemplo, pelo desenfreado consumismo, pela exploração do outro, pela necessidade de lucro pelo lucro e pela lógica de sempre levar vantagem, acabaremos por configurar um modo de vida que não gerará alegria duradoura, pois ela se esvai junto com cada uma dessas coisas. Todos somos do mundo e devemos viver e conviver com o que está ao nosso redor. Mas, não é saudável se fechar apenas na materialidade das coisas. O mundo precisa de olhares transparentes que captam sua beleza e sentido e que permitam fazer boas experiências de transcendência. Terceiro, cultivar as pequenas e grandes experiências de coerência de vida. Em outras palavras, desfrutar daquelas experiências que fazem a vida fluir, que plenificam o coração, que fazem brilhar o olhar. Coerência humilde, que reconhece a pequenez e a grandeza próprias e as dos demais, que encontra satisfação e contentamento em aproveitar cada situação da existência e fazer delas um hino de júbilo que brota do coração. No final, a alegria deve ser a expressão daquilo que habita o mundo interior de cada ser humano, em conexão com o mundo e a história. É um modo de ser-no-mundo, resultado de uma saudável integração entre necessidades e possibilidades, num processo de crescente contentamento e gratuidade diante da vida. _____ Vanderlei Soela é pedagogo e psicólogo. Mestre em Aconselhamento Pastoral. |
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Ainda que a minha fé seja tão viva a ponto de transportar montanhas, (...) se eu não tenho a caridade, nada sou.
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quinta-feira, 13 de setembro de 2012
ESPIRITUALIDADE
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